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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Queria regressar a mim...


Queria por um momento apenas voltar à casa da minha infância...ao regaço quente da ternura como quem volta ao útero materno...como quem amanhece de um sonho que nos traz memórias de cheiros e imagens guardadas na lembrança da menina que regressa como ave ao ninho...sem saber se está chegando ou nunca partiu.
Como se voasse volto à minha doce planície de espigas vestida e de rubras papoilas salpicada...onde saciei a sede das lonjuras...nesse horizonte por onde deixo o meu pensamento flutuar num tempo que passava por mim como uma suave brisa tocando os meus cabelos ainda negros...o meu rosto ainda sereno e onde os braços da minha mãe eram a minha casa...o meu porto seguro.
Caminhei tanto pelos labirintos da memória...pelos corredores da infância procurando a ternura que me afagava o corpo e as estrelas que brilhavam no meu olhar de menina...o tempo dos sorrisos...tão efêmeros como tudo o que não volta...paisagens e lugares que guardo dentro de mim...retratos a que o tempo roubou as cores e rostos que apenas na memória do meu olhar ainda vivem.
Depois de tanto caminhar com a saudade a doer na lembrança sinto que o tempo já não é igual...que as noites já não são serenas e o sol já se escondeu na imensidão da planície como se fosse o pavio de uma vela a apagar-se...um manto de silêncio que me envolve num terno abraço que me leva de volta à casa da minha infância como se um anjo me levasse nas suas asas...como se uma nuvem me acariciasse o olhar...como se mãos invisiveis tocassem as minhas num silêncio que apenas a minha alma ouve.
E serenamente antes que chegue a alvorada...antes que o sonho se transforme em espuma volto à realidade do aqui e agora e deixo o lugar da memória sentindo um suave aroma de rosmaninho como se uma aurora antiga afagasse o meu corpo ou se de repente ouvisse chamar o meu nome e esse nome não fosse meu e essa voz que me chama fosse apenas o eco longínquo de mim onde permanecem vivas todas as lembranças da menina que de esperanças se veste em cada regresso.